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Minha cirurgia espiritual

Por Maria Augusta Puhlmann 

Maria Augusta F. Puhlmann [1902 – 1983] é referência na história do espiritismo de São Paulo. Fundadora da Instituição Beneficente Nosso Lar, iniciou um dos trabalhos pioneiros para acolher bebês órfãos e abandonados, em 1946.

Eu estava com 30 anos. Meu estado de saúde era precário, sempre muito magra, sentindo dores que o médico dizia ser começo de uma úlcera gástrica. 

Embora deslumbrando-me com os novos ensinamentos espíritas e recebendo medicação naturalista, meu mal-estar e o emagrecimento continuavam. 

No meio espírita falava-se a respeito da vinda a São Paulo de um médium de cura que chegaria do Rio de Janeiro em poucos dias. Seria hospedado na casa da família Andreucci. 

Era segunda-feira. Ele estaria em São Paulo na quarta. A notícia se espalhou, enchendo de esperanças as pessoas adoentadas e eu era uma das escaladas para receber o tratamento. 

Na noite da segunda-feira, sentindo-me mais debilitada ainda, deitei-me cedo. Foi a primeira vez que tive a nítida lembrança dos detalhes de um sonho. 

Percebi-me levada para uma sala espaçosa onde, em meio a algumas pessoas, estava um homem magro, com cabelos curtos e grisalhos, sobrancelhas cerradas e pretas, sentado diante de uma pequena mesa consultando fichas e escrevendo nelas. 

Várias pessoas aguardavam. Quando ouvi o meu nome, fui ao encontro daquele homem, que me colocou deitada em um divã, cobrindo-me com um lençol. Depois, olhando-me firmemente, pediu que eu escolhesse um dos médicos presentes e eu apontei para o que achava mais à minha frente. 

Ele sorriu-me, aproximou-se e colocou suas mãos levemente sobre meu estômago. Pediu-me que eu olhasse. 

Erguendo um pouco a cabeça, observei-me, vendo com espanto um buraco completamente aberto na região do alto ventre, deixando os órgãos internos a descoberto. Ele os tocou sem que eu nada sentisse e retirou de dentro um corpo estranho, escuro, com cerca de três centímetros por dez de comprimento. Levou ao alto, mostrando-o aos seus colegas, que sacudiram a cabeça positivamente. 

Depois, vi que a peça se desintegrou no ar, enquanto as mãos do médico eram colocadas sobre a parte operada. Observei novamente. O buraco havia desaparecido, deixando a pele intacta. 

Eu assisti a tudo. Ao despertar, estava certa de que ele havia me operado espiritualmente. Desde aquele dia eu me senti completamente curada. 

Dois dias depois fui apresentada pelo casal Andreucci a Anésio Siqueira [1883-1943], o médium que viera do Rio, e o reconheci como o homem que me conduzira à mesa operatória. 

Bibliografia: Olhai as aves do céu, ed. Batuíra. 

(Publicado no jornal Correio Fraterno, edição 490-nov./dez/2019)