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Estrelas que não se apagam

Por Ana Oliete Lima de Souza

Tudo estava caminhando da melhor forma possível. Minha filha Angélica, grávida e muito feliz, foi ganhar o filho amado.

Depois de três dias em casa, precisou voltar para o hospital e ficou 18 dias na UTI. Ela desencarnou no dia 16 de agosto de 2009. Foi muito triste sua passagem! Achei que eu não ia conseguir viver mais.

Eu e minha família nos unimos mais do que nunca para continuarmos os dias tão difíceis que foram vividos.

Eu, meus dois filhos, Lincoln e Welinton, e o meu marido, que não aceitava aquela perda da filha amada.

O tempo se arrastava e nós caminhávamos lentamente. Passado um tempo, já tínhamos esperança de voltar a sorrir. Welinton era a nossa grande sustentação. Estava sempre mais conformado do que todos nós.

Em um sábado, porém, ele saiu para fazer o que mais gostava: andar em sua moto, que mantinha para o seu lazer. Então, outro pesadelo voltou a acometer a nossa família. Depois de sofrer um acidente, Welinton também partiu.

Fazia um ano e três meses que Angélica já não estava conosco. Lembro-me que cheguei a ter vergonha da minha situação, pois me senti a menor pessoa do mundo... Aquela que sequer merecia a bondade de Deus. Só depois fui entender que a dor não é castigo, mas instrumento de progresso no amor.

Mas eu tinha de ser forte, pois meu marido e o filho mais velho precisavam de mim. Depois de três meses do ocorrido, uma amiga trouxe-me notícias dos filhos queridos, dizendo-me que eles estavam em tratamento em uma colônia espiritual e que precisavam do meu amor para se recuperar mais rapidamente. Foi a primeira esperança para eu continuar vivendo.

Em seguida, conheci o Centro Espírita Lírio Branco, em São Bernardo, que realiza um trabalho muito especial de autoajuda para pessoas que, como eu, experimentam provas difíceis. Muitas delas mais difíceis do que a minha, como a mãezinha que chorava a perda do filho com apenas quatro anos de idade.

Ao vê-la em sua dor, entendi que eu não tinha o direito de reclamar, pois meus filhos ficaram comigo muito mais tempo: a Angélica 25 anos e o Welinton 36.

O tempo foi passando e fui convidada a fazer parte da equipe dos trabalhadores nessa tarefa, chamada ‘Entes queridos’.

Esquecida de minha dor, por querer ajudar os que chegam passando a dor que eu já conhecia, fui um dia surpreendida com uma linda mensagem assinada pelos dois que preencheu todo o meu coração. Welinton falava da grande sorte de terem um ao outro na espiritualidade.

Quando uma mãe poderia ver alguma vantagem, ao ver partir dois filhos em tão pouco espaço de tempo? Pois naquele momento eu entendi. E aquela era mais uma lição: a de que eu precisava aprender a amar sem pensar só em mim. Olha que maravilha eles estarem juntos!

No primeiro Dia das Mães, depois que partiram, recebi uma mensagem linda, dizendo que o meu presente eram as estrelas que eu naquela noite conseguisse ver no céu. Chorei muito quando li e disse comigo mesma: “Ficarei com todas!”

Essa história de ganhar estrelas tinha um significado especial para nós. Era comum em casa ouvir de minha filha que o namorado havia lhe oferecido tais e tais estrelas do céu. Eu desdenhava, mas no fundo pensava: “Que lindo! Um dia alguém há de me oferecer também estrelas!”

Hoje já não sinto mais dor. Saudades? Imensas. E se assim posso dizer: sou muito mais feliz! Porque consigo ver beleza no que antes passava despercebido. Perdi meus medos de tantas coisas pequenas, por entender que Deus está mais do que presente em minha vida. Não há o que temer. E nunca, nunca os meus filhos estiveram tão presentes. São como minhas estrelas que, mesmo não as vendo em noites escuras, eu sei que elas estão lá.

(Artigo original publicado no jornal Correio Fraterno)