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Depressão pós-parto não é frescura!

Por Juliana Guedes Marchini Torquato

Gostaria de contar a minha experiência sobre o assunto.

Micaela foi planejada e feita com muito, mas muito amor. Tínhamos certeza absoluta de que queríamos um filho. Deus me concedeu essa dádiva rapidamente. Minha gestação foi uma beleza. Todos que conviviam comigo sabiam que eu não tinha sintoma algum e estava mais ‘iluminada’. Engordei pouco, inchei no máximo três dias, não enjoei dia nenhum. Queria muito o parto normal, mas não foi possível, pois a Micaela estava posicionada muito acima. Os três dias que passamos no Santa Joana foram ótimos. Nossa vida estava completa. Aquele anjinho do nosso lado! Estávamos todos apaixonados.

Saindo da maternidade, na porta do elevador, eu disse para Micaela: “É, filha, agora você será apresentada para esse mundão de Deus.” Me bateu um medo, não nego.

Ela era muito boazinha. Acordava de três em três horas para mamar. Minha mãe e meu marido ficaram comigo na primeira semana. Naqueles primeiros dias, meus parentes me visitaram em casa. Uma de minhas tias me disse que eu parecia meio triste. Eu disse que era impressão, mas no fundo, tinha sim algo estranho comigo.

Uma tristeza. Nada grave. Afinal, é muita coisa nova de uma só vez. Achei realmente que era só cansaço.
Essa tristeza perdurou por mais duas semanas. Eu entrava debaixo do chuveiro e não tinha vontade de sair. Todos os dias ao acordar eu pensava: “Que fardo, mais um dia...”. Sentia-me alienada, uma sensação de que eu não estava no meu corpo, de que eu não estava nesse mundo. Eu não sorria mais. Mal abria a boca para conversar com alguém. Muita, mas muita falta de apetite. Em um mês já pesava menos de que quando engravidei, e estava com aspecto doente.

Pra vocês terem uma ideia, sempre gostei de fazer artesanatos e comprar coisinhas na Lapa. Um dia fui até lá, meio empurrada com minha mãe, mas não senti vontade de comprar nada.


Uma noite, do nada, tive insônia. Fiquei seis horas rolando na cama. Desci pra sala, num tempo chuvoso. Fiquei assistindo à tv, enquanto Edson e Micaela dormiam. Foi a pior noite da minha vida!

Mandei uma mensagem para minha ginecologista e relatei o que estava acontecendo. Ela me orientou que eu procurasse um neurologista ou um psiquiatra.
Fui ao São Camilo e o psiquiatra  me passou medicação para o diagnóstico de depressão pós-parto.

Eu tinha pensamentos ruins mesmo, de me machucar e machucar Micaela.
Parece mentira, né? Mas não é!

Nunca achei que depressão fosse frescura, mesmo porque, quando minha tia Paula faleceu, eu só queria saber de dormir e chorar.

 Quando esses pensamentos vinham na minha cabeça, eu rezava demais e pedia a Deus pra não fazer nada daquilo, pois eu amava (e amo) demais a minha filha. Acho que nunca rezei tanto na minha vida! Chorei feita criança, me abrindo com meu marido e com minha ginecologista. Os pensamentos ficavam na minha cabeça 24 horas por dia! Era um tormento que eu não sabia de onde vinham.

A doutrina espírita me ajudou muito, para eu me asserenar e não cometer nenhuma besteira. Pensava que não podia tirar a minha vida, nem o presente que Deus havia me dado.

Minha ginecologista me deu um oração para ler. Eu também lia o Pai-Nosso e, pela prece, fui tendo conversas muito francas com Deus.
Hoje já não tomo mais medicamento.

Mesmo sem amamentação, que precisei parar, minha filha é hoje uma criança esperta e muito saudável.

Ah!, e continuo meus estudos, numa casa espírita na Lapa, em São Paulo.

A atividade física também me ajudou demais, pois ela produz endorfina e serotonina, regulador do nosso humor.


Agradeço a Deus, Jesus, meus pais, meu marido e a todos os amigos que me ajudaram muito.

De coração, vocês foram fundamentais para mim!