Correio.news

View Original

Boa inspiração para fazer o bem

Por Veridiana Rizzini

Quando iniciei os trabalhos voluntários na Casa da Criança Irmã Angela, no ano de 2002, na Zona Norte de São Paulo, não imaginei que eu ficasse tanto tempo lá. Foram quase dezoito anos. Muito menos que eu teria tantas histórias para contar.
Lembro-me de uma das meninas que adorava estudar. Tinha uma letra linda!
Sempre que dava, eu levava frutas para lavarmos e comermos todas juntas. Mas Elaine não. Preferia ficar mergulhada nos livros... Assim foi durante anos: cantando, dançando, assistindo televisão com as meninas, e Elaine lá, entregue aos livros.
Um dia de grande felicidade chegou para nós: a notícia de que um dos voluntários da casa iria custear os seus estudos em escola particular. Seria uma oportunidade incrível para ela aprimorar os seus estudos!
Saímos então em busca da escola ideal. De largada, fomos na mais conhecida do bairro, mas logo percebermos que o ambiente não combinava com nosso modo de ser e viver.
Partimos para outras opções, sempre com o ideal de oferecer muito mais que conteúdo, mas experiências ricas de vida, de convívios, de valores. Entendemos... Não estava nada fácil encontrar esta escola.
Fomos a algumas mais distantes, mas havia o problema da condução.
Os dias rapidamente foram passando, até que numa tarde, ao sair da casa Irmã Angela, resolvi mudar o caminho e seguir pela rua de cima.
Acreditem! Lá havia uma escola que eu nunca havia notado!
Assim como que meio guiada, estacionei o carro e entrei.
Tudo me parecia muito familiar. Não demorou para eu ser encaminhada até a sala da diretoria. Foi onde eu vi rapidamente uma pessoa se levantar da cadeira, atrás da mesa em que se encontrava e dizer:
— Veridiana, você não se lembra de mim? Nós estudamos juntas!
Eu me arrepiei. Olhei bem para ela e a reconheci de anos atrás.
Contei-lhe tudo sobre os nossos projetos e sobre os sonhos da nossa menina dedicada para aprimorar os seus estudos.
Sentia uma imensa alegria dentro de mim. Lembrei-me naquele instante do quanto somos ajudados, do quanto a espiritualidade amiga nos guia e nos inspira, quando o nosso propósito é fazer o bem.
Elaine precisou fazer uma prova avaliativa, que revelou que talvez sentisse dificuldade para acompanhar a turma. Mas aceitou o desafio. E foi um orgulho geral quanto ao seu desempenho, tornando-se uma das melhores alunas da turma.
A história da menina dedicada segue, mas deixarei para contar numa outra vez, aqui mesmo no "Foi Assim".

*Este fato foi narrado pela psicanalista Veridiana Rizzini, neta do reconhecido escritor Jorge Rizzini. Envie também sua história! Ela poderá ser publicada aqui na seção "Foi Assim".

(Artigo original publicado no Jornal Correio Fraterno)