A casa apedrejada por espírito
Por Miguel Domingos de Oliveira
Na década de 1950 presenciei um fato interessante, acontecido em uma casa que até hoje existe, na avenida Cesário Alvim, em Uberlândia, MG, ao lado de um depósito de brita, pertencente a uma casa de material de construção.
Sem que ninguém explicasse o porquê, a casa começava a ser alvejada por torrões de terra, que volta e meia estilhaçavam as vidraças.
Os donos da casa, muito assustados com aquilo, chamaram o padre para expulsar o que eles acreditavam ser o demônio. Na sala da casa, o sacerdote ergueu um pequeno altar e com muita boa vontade iniciou suas orações. De repente, um torrão vindo de um dos cômodos interiores passou rente aos seus óculos. Assustado, o pároco viu o segundo torrão ser lançado em direção ao quadro de jogadores de futebol, afixado na parede atrás.
Desesperado, o padre saiu a gritar que ali não ficava, que aquilo era coisa do demônio.
Naquele mesmo dia, nosso vizinho foi até em casa narrar o fato e revelou que gostaria de ver de perto aqueles fenômenos, embora o medo não o deixasse ir.
— Você já foi lá, Miguel? — perguntou-me ele.
— Eu não — lhe respondi.
— Ah! Então vamos todos ver isso de perto — falou, taxativa, minha esposa.
Nossa visita
Assim o fizemos. Maria, o vizinho e eu fomos recebidos pelo dono da casa, que nos contou o fato que já sabíamos, porém com mais detalhes. De repente, a cena se repetiu. Um torrão passou à nossa frente e foi se espatifar num quadro na parede, que caiu desfeito ao chão.
Meu vizinho, surpreso e contendo o temor, indignou-se:
— Oh, o negócio é verdade mesmo!
E os torrões continuaram vindo, um a um, destruindo quadros e enfeites da casa. Assustado, meu vizinho que acompanhava tudo muito atento, interrogou apavorado:
— Oh! Mas o que que é isso, Miguel?
— Isso não é nada, não. Esse fenômeno não deve mais continuar.
Enquanto Maria conversava com os donos da casa, fui andando pelos cômodos, fazendo uma prece mental, conversando com o amigo desencarnado, dizendo que ele estava trabalhando muito bem para a divulgação da mediunidade, mas que aquilo não era certo, pois que estava assustando muita gente, tomando o tempo das pessoas que ali moravam e que tinham os seus compromissos, porquanto o dia todo eram curiosos e repórteres que chegavam, querendo informações.
— Peço-lhe — continuei minha conversa mental — que se puder, me acompanhe aos trabalhos que mais à noite acontecerá no Centro Espírita Joana d’Arc, e lá poderemos conversar.
Despedimo-nos dos moradores e saímos para a nossa casa.
Trazendo à consciência
O dia transcorreu normalmente e, chegada a hora dos trabalhos mediúnicos, eis que o nosso amigo é o primeiro a nos falar, através de um dos médiuns presentes na reunião.
Ele ria, ria muito, dando altas gargalhadas. Eu, então, perguntei-lhe:
— Meu amigo, do que é que você está achando tanta graça?
— Você não assistiu lá as pedradas? Viu que boa acertada eu dei no quadro dos jogadores de futebol que estava na parede acima da janela?
Eu deixei-o rir bastante para depois tornar a falar do benefício que ele prestava às pessoas, despertando-as para as coisas além da matéria, mas a maneira com que fazia não era correta, pois trazia muitos transtornos.
— Eu faço isso há muito anos. Na fazenda, eu era mestre em pregar sustos nas pessoas. Eu pegava uma saia de mulher, amarrava uma peneira e pendurava-a no pescoço. Transfigurado na sombra da vela acesa que eu carregava, eu saía à noite assustando todo mundo.
— Ouvindo sua narrativa, eu perguntei de onde ele retirava os torrões de terra que atirava na casa, e porque não jogava britas, já que no terreno pegado a casa havia um enorme depósito.
— Ah, os torrões eu só consigo tirar debaixo dos pés daquele menino – referindo-se à criança de 12 anos que lá morava. Tratava-se do neto do dono da casa, que mesmo sem ter consciência do fato, oferecia das condições necessárias para o que o fenômeno de efeitos físicos se realizasse.
Através das faculdades mediúnicas da criança, ele interferia nas atividades da casa, na fazenda, nos lugares onde a criança convivia. Dizia ele que quando o menino estava na fazenda, não se conseguir tirar leite das vacas, pois que elas, enfurecidas, davam coices para todo lado.
O convite para o despertar
— Olha, meu amigo —continuei—, o tempo de brincar assim já se foi. Nós vamos juntos fazer uma prece e você vai observar que muita coisa mudou. Observe.
E com muito cuidado, estimulando aquele irmão para que percebesse que já havia deixado o corpo material para trás através da desencarnação, falei à certa altura da nossa conversa:
— O que pensaria se eu lhe dissesse que a vida não acaba com a morte e que continuamos a viver em outro plano? Muitos irmãos nossos desencarnam e nem percebem que já não pertencem a este plano!
— Não, mas não é meu caso, não. Eu tô vendo tudo o que se passa. Conheço todos que vão em casa. Ei joguei pedra no padre que eu sei quem é. Eu até ri demais com o jeito dele falar, que eu era o satanás. Ainda pensei: Que ignorância. Eu não sou o satanás, não.
— Pois é, meu amigo, é que seus atos estão mesmo parecendo de uma pessoa errada. Deixe disso. Acompanhe essa equipe que lhe convida para estudar e se preparar para que possa usar toda essa energia que você tem para fazer muita coisa boa.
Finalizamos o nosso diálogo sentindo que aquele irmão havia se sensibilizado com a conversa e que aceitara o nosso convite ao preparo para o seu aprimoramento e o trabalho no bem.
Depois daquele dia, não mais tivemos notícias sobre fenômenos sobrenaturais na casa, sobrenaturais não, mais do que naturais, pois se Deus é o criador de natureza, existir algo sobrenatural significaria estar fora do controle Daquele que tudo sabe, tudo ouve, tudo vê.
Do livro Atos de amor, Miguel Domingos de Oliveira, Izabel Vitusso. Lírio Editora, MG, 1997.